quarta-feira, 26 de maio de 2010

Em 18 meses, mais 8 mi de famílias ganham condições de comprar carro

Poder de compra do brasileiro sobe com alta da renda e prazos mais longos.
Situação deve se manter mesmo com Selic maior, dizem especialistas.


Paula Leite Do G1, em São Paulo


O sonho de parar de andar de ônibus e ter suas próprias quatro rodas é uma realidade para cada vez mais brasileiros. Nos últimos 18 meses, 8 milhões a mais de famílias passaram a ter a condições de comprar um carro, mostra um estudo do banco Santander.

Isso aconteceu por uma conjunção de fatores: o preço do carro caiu 6,5%, com o efeito do desconto no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); os juros para quem compra caíram, seguindo a queda da taxa básica da economia, a Selic; e o prazo máximo de financiamento para compra de veículos subiu de 72 para 80 meses.

Com tudo isso, a parcela de um carro zero passou de cerca de R$ 744 em setembro de 2008 para cerca de R$ 557 em março deste ano. E além de a parcela ficar menor, a renda média subiu, de R$ 1.241 para R$ 1.408 no mesmo período. Por fim, mais gente conseguiu emprego com carteira assinada, o que dá mais confiança para assumir dívidas de longo prazo: nesses 18 meses, foi criado um milhão de vagas formais.

O resultado disso, conclui o Santander, é que hoje 35,6% das famílias podem comprometer até 30% da renda com a parcela do carro, percentual que era de 20,7% em setembro de 2008.

E o efeito observado nos carros também está acontecendo com outros produtos, como linha branca e eletrônicos. “O poder de compra aumentou muito nesse período”, diz Luiza Rodrigues, economista do Santander e autora do estudo. “Além disso, o emprego formal é muito importante para o crédito.”

Na garagem

Famílias como a do estudante Felipe Xavier aproveitaram esse momento. Em setembro do ano passado, ele comprou um carro financiado. “Antes eu não encontrava um carro legal por um preço acessível”, diz ele.
Ele trabalhava com carteira assinada e achou um Palio 2001 “ótimo, inteiro”, segundo ele. “Fiz um financiamento com desconto em folha porque o juro era menor”, conta Felipe.

No entanto, ele perdeu o emprego três meses depois – o seguro feito junto com o financiamento pagou quatro meses de parcelas. Segundo Felipe, no mês que vem ele terá que pagar a parcela, de R$ 179. Até lá, porém, ele espera arranjar outro emprego ou estágio.

Antes do Palio, Felipe já tinha sido dono de um Fusca, mas o Palio é seu primeiro carro “mais novo”. “O Fusca dava muito problema, o carro mais novo não dá tanto”, diz ele, que, no período que ficou sem veículo, andava de bicicleta.

“Hoje o carro não é um luxo, é uma necessidade. Com o carro você perde o medo de fazer as coisas mais longe, dá mais oportunidades”, conta ele, que mora em Santo André e graças ao carro pode estudar com mais facilidade em São Bernardo, além de levar e buscar sua mulher na faculdade e no trabalho.

Aumento dos juros

Para Waldir Quadros, economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o acesso de mais pessoas a produtos como carros, eletrônicos e linha branca é positivo. “É um sinal de que conseguimos superar a crise. A economia está crescendo a taxas significativas”, diz ele. “A queda dos juros [para o consumidor] nesse período [18 meses] foi pequena. O que realmente estimulou o consumo foi o aumento dos prazos”, afirma.

Com o aumento da taxa básica de juros pelo Banco Central em abril, os juros podem aumentar também para o consumidor, mas os especialistas acreditam que isso não deve mudar muito o quadro do poder de compra.

“O preço do carro deve subir uns 2% com o aumento do IPI e do preço do ferro. Além disso, os juros devem subir. Mas o rendimento deve continuar subindo também”, diz Rodrigues. “Apesar de o prazo máximo para financiar o carro já estar no limite, a maioria das pessoas não compra em 80 meses. Então hoje quem compra em 20 meses pode por exemplo comprar em 40”, explica ela.

Quadros também acredita que a alta da Selic não deve mudar muito a situação do consumidor. “O juro na ponta é muito alto, [a Selic maior] não afeta muito.” Para ele, a única medida que reduziria o consumo é a redução dos prazos de financiamento. E a renda do brasileiro deve continuar aumentando se a economia continuar crescendo, acredita ele.


Fonte: Globo.com

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