quarta-feira, 26 de maio de 2010

PEQUENO EMPRESÁRIO SE MANTÉM FIRME NA CRISE E INVESTE

Voltados para o mercado interno e com estrutura mais enxuta, empreendimentos de menor porte sentem menos os efeitos da crise econômica.
Selma Frazão, 49, e Ilana Moniz, 47, estão investindo R$ 150 mil em uma escola de idiomas. Paulo Henrique Magalhães, 32, prevê expansão de 35% neste ano em sua empresa de tecnologia. Zeca Bastos, 43, acabou de abrir uma loja de depilação e criou oito empregos.

Os relatos mostram que o vigor do pequeno empreendedor resistiu ao pior da crise. As estatísticas refletem: micro e pequenas empresas criaram 450 mil empregos no ano, enquanto médias e grandes eliminaram 150 mil, segundo dados do Ministério do Trabalho. O saldo de vagas nas empresas menores em 2009 equivale assim a uma vez e meia o saldo total de postos formais no país no primeiro semestre (300 mil).

No Brasil, há 4,6 milhões de empresas, das quais 98% são micro e pequenas. Tradicionalmente, elas empregam 60% da mão de obra formal do país.

Ao BNDES as micro e pequenas pediram R$ 4,3 bilhões neste ano -22% mais do que no primeiro semestre de 2008.

Empresários e especialistas concordam que pequenas empresas não estão imunes à crise, mas sentiram menos os efeitos do que as de maior porte. Micro e pequenas empresas têm até 49 funcionários, de acordo com o Sebrae, e receita até R$ 10,5 milhões, segundo o BNDES.

"É um fenômeno curioso da crise, e seus efeitos não podem ser ignorados", diz o diretor do BNDES João Ferraz.

As explicações são muitas. "São empresas mais voltadas para o consumidor do mercado interno, que sustentou a economia no primeiro semestre", diz Sérgio Malta, diretor do Sebrae-RJ. "Elas atendem um mercado que ainda sente os efeitos positivos do crescimento dos salários no passado recente", diz Ferraz.

Malta lembra que a crise foi mais forte entre as exportadoras e, entre as micro e pequenas, poucas vendem para o mercado externo.

A estrutura geralmente enxuta também ajuda. "As grandes sempre têm onde cortar. As pequenas têm estrutura mínima porque não suportam custos altos", diz Marcelo Salim, coordenador do Centro de Empreendedorismo do Ibmec-RJ.

Alguns dos empresários ouvidos chegaram a temer a crise, mas não viram motivos suficientes para não ir em frente.

Dono de lojas de acessórios e de uma temakeria, Bastos resolveu testar o setor de serviços porque estava cansado de "prender dinheiro em estoque". Com a mulher, Lúcia, criou a Deleve, de serviços de depilação, onde funcionava uma de suas lojas, no Shopping da Gávea, na zona sul do Rio.

Agora, o casal emprega oito pessoas, três a mais do que antes. "Sei que é uma boa oportunidade. As cariocas não vão deixar de se depilar."

A empresa Fidelize, de Magalhães e mais três sócios, fornece tecnologia para empresas de alimentos e farmácias. Quando a crise veio, tinha dez empregados. Os negócios travaram. Depois de fevereiro, conta Magalhães, a empresa retomou o ritmo. "Criamos produtos ligados à redução de custo para os clientes." O faturamento cresceu 7% ante o primeiro semestre de 2008. Quatro pessoas foram contratadas.

A retração também empurra o empreendedorismo. Selma e Ilana perderam o emprego de gerente de banco. "Procuramos emprego em outros bancos, mas estava difícil. Decidimos criar nossos empregos", diz Ilana. Agora, estão abrindo uma escola de idiomas Fisk em Anchieta (subúrbio do Rio). Contrataram cinco pessoas. "Sei que há risco, mas foi uma decisão estudada", diz Selma.

Fonte: Folha de São Paulo

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